Última atualização em 10/07/2023 por Ítalo Duarte
Neste 8 de julho, o menor estado do país se expande simbolicamente para recordar a história de seu povo. Há 203 anos, milhares de sergipanos comemoraram a emancipação política de Sergipe, que se via autônomo frente à ingerência baiana. Hoje, outros sergipanos seguem celebrando essa conquista, partilhando histórias que reconhecem e honram o caminho de seus antecessores.
Tais caminhos se delinearam de forma a constituir uma identidade própria, conhecida por quem vive aqui e por quem vem de fora. O clima pacato e a sensação de que tudo e todos são próximos é uma marca sergipana, criando uma atmosfera de intimidade e acolhimento. Junto a isso, os investimentos que a gestão estadual tem feito contribuem para que o estado alcance números que impactam positivamente na qualidade de vida de quem vive em Sergipe.
Um exemplo diz respeito ao crescimento no volume de serviços que geram mais oportunidades para os sergipanos, com registro de mais 6,4% no acumulado de janeiro a abril deste ano, segundo dados analisados pelo Observatório de Sergipe, publicados no último 15 de junho. Já no comércio, outro setor de destaque, o crescimento acumulado do ano foi de 5,4%. Outro indicador que demonstra a tendência de crescimento na economia sergipana é a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Nos cinco primeiros meses de 2023, o volume coletado foi de R$ 1.963.445.474,38. No mesmo período do ano passado, entretanto, esse mesmo quantitativo foi de R$ 1.953.890.803,99. A variação nominal de um ano para outro, portanto, foi de 0,49%.
Com uma política de governo transversal de geração de empregos, o Governo tem preparado o estado para uma nova era de progresso e crescimento socioeconômico. Números analisados pelo Observatório de Sergipe revelam uma tendência de aumento já registrada. Somente de janeiro a abril, este saldo foi de 1.715 vagas. No acumulado dos últimos 12 meses, 12.917 postos de emprego foram gerados no estado.
A sensação de segurança sentida pelos sergipanos é também reconhecida pelos que visitam o estado e, muitas vezes, o fator decisivo para os que escolhem aqui para viver. E isso não é apenas uma impressão. É uma constatação, conforme apontou o levantamento feito pelo Monitor da Violência, publicado no G1, em junho, quando Sergipe apresentou a segunda maior redução no número de mortes violentas no Brasil.
Na sexta-feira, 7, dados divulgados pela Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal (Ceacrim), da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), apontaram queda de 61,6% no número de homicídios na comparação entre o primeiro semestre de 2016 e o de 2023, representando pelo menos 383 vidas salvas. Em comparativo na série histórica, o número de homicídios no semestre é o menor desde 2005, quando foram registrados 234 homicídios. O comparativo é feito com o ano de 2016, quando Sergipe apresentou a pior taxa de homicídios do estado.
Apaixonado por Sergipe
Natural de Pirambu, o funcionário público aposentado Edgar Odilon, de 82 anos, é nascido e criado em Sergipe. E por aqui pretende ficar até o fim da vida. Com quatro filhos e oito netos, todos sergipanos e moradores de Sergipe, seu Edgar se diz apaixonado pelo estado no qual constituiu sua vida e sua família. E a tranquilidade do estado é um dos fatores que aumentam sua satisfação em viver aqui.
“Nunca tive curiosidade nem necessidade de morar em outro lugar. Sergipe é uma terra boa. Tem campo para sobreviver, não tem violência. Tem um povo ordeiro, pacífico, acolhedor e ‘amigueiro’. É um estado pequeno, onde todo mundo se conhece. Tem belezas naturais, cultura, belíssimas praias, municípios banhados pelo Velho Chico, um mercado de trabalho promissor. Tenho orgulho de ser sergipano, porque construí minha vida aqui, onde a paz reina”, classifica.
O Governo do Estado trabalha para que os números positivos sejam uma realidade no presente como também no futuro e por isso lançou, em março deste ano, o ‘Desenvolve Sergipe’, que está fundamentado em quatro vetores de atuação: atualização da legislação do estado; planejamento e execução de projetos de infraestrutura; alinhamento de programas e ações estratégicas, com foco na geração de emprego e renda; e no fortalecimento do papel do Banco do Estado de Sergipe (Banese) nas ações de fomento econômico.
Seja pelo desenvolvimento econômico, belezas naturais, segurança, crescentes oportunidades, ou orgulho de pertencer ao ‘País do Forró’ – como promovido pelo Estado com os 30 dias de festejos no estado no período junino -, quem vive em Sergipe tem muitos motivos para celebrar. Esse sentimento converge na construção de um pertencimento coletivo.
Encontro
Quem um dia foi acolhido por Sergipe hoje é quem acolhe. O casal Geraldo Luiz dos Santos, 75 anos, e Maria das Graças Rocha dos Santos, 69, ambos aposentados, trabalha hoje na Orla da Atalaia vendendo peças artesanais e recepcionando turistas. Cada qual veio do seu lado: ele de Feira de Santana, Bahia, e ela de Palmeira dos Índios, Alagoas. E foi Sergipe que marcou o início dessa história de amor, que perdura até hoje e que resultou em três filhos sergipanos.
“Sou músico e cheguei a Sergipe em 1970. Na época, estava cogitando ir para São Paulo ou para Manaus. Em 74, fui convidado para tocar em Propriá. Foi lá que vi uma morena muito formosa passando, e pensei: ‘É ela!’”, narra Geraldo. “Meu pai era vendedor ambulante, por isso vim morar em Sergipe. Moramos em Propriá até 1997, depois que casei e tive filhos. Aí viemos para Aracaju, em busca de qualidade de vida”, completa Maria das Graças.
Para o casal, que nunca pensou em sair do estado, o diferencial de Sergipe é a tranquilidade. “Aqui é muito cativante. É aconchegante, todo mundo fala com todo mundo, não tem aquela coisa artificial. Não tem quem não se apaixone”, ressalta Geraldo. “Os turistas que a gente recebe sempre voltam. Eles fazem questão de passar para nos dar um abraço e para receber alguma indicação de onde ir, do que comer… E é muito gratificante falar de um estado tão acolhedor. A gente tem prazer em dizer tudo o que Sergipe tem a oferecer”, frisa Maria.
Por amor
A empreendedora Polyana Bittencourt, 43 anos, veio a Sergipe pelos estudos, e ficou pelo amor. Natural de Valença, no sul da Bahia, ela chegou a Aracaju em 1997 para cursar Jornalismo. Antes mesmo de iniciar a faculdade, entretanto, começou a namorar um sergipano, de quem segue ao lado até hoje, 26 anos depois. Uma filha de 20 anos é fruto desse relacionamento.
“A princípio, achei que iria embora logo depois que concluísse a faculdade. Aos poucos, percebi que construí uma história aqui. As relações sociais são duradouras, e sempre me deram suporte emocional. Hoje, tenho mais tempo de Sergipe do que de Bahia, e isso me orgulha muito. Desde que cheguei a Aracaju, procurei viver a cidade, as pessoas, as coisas. Isso me fez ser o que sou hoje”, afirma.
Polyana elogia e defende o estado que escolheu para viver. “Amo Sergipe e procuro conhecer cada cantinho desse estado que me acolhe até hoje. Gosto muito de viajar, e toda vez que volto para Sergipe, valorizo ainda mais esse povo e esse lugar. A lista de motivos para amar Sergipe é enorme. Em cada lugar que passei nesse estado, aprendi algo. Por isso, sou grata. Pretendo conhecer ainda mais as riquezas desse povo, que é meu também”, enfatiza.
Participação
A professora aposentada Maria de Lourdes Dantas, de 85 anos, é nascida em Frei Paulo e por todos os cantos da cidade conhecida como ‘Shirlene’. Seu amor pelo estado e pelo município é tão grande que ela fez questão de contribuir para a história de sua gente. Para tanto, Shirlene participou da criação da bandeira de Frei Paulo, transformando em imagem a trajetória do seu lugar.
“Todo canto tem coisas positivas e negativas, mas Sergipe tem muito mais positivo do que negativo. Tenho orgulho de ser sergipana por tudo o que Sergipe tem de bom. Os sergipanos são pessoas conscientes, amigas, trabalhadoras. Todos têm confiança um no outro, e são de ajudar ao próximo. Chego em todo lugar e digo: sou sergipana, sou de Frei Paulo”, diz Shirlene.
História
Todas essas histórias confluem em uma só: a de Sergipe. E a história desse estado tem na emancipação um capítulo de grande importância. Quem a conta, aqui, são os historiadores Osvaldo Neto e Edna Matos. No começo da década de 20 do século XIX, o que hoje é território sergipano estava atrelado à capitania da Baía de Todos os Santos, atualmente Bahia. Havia, no entanto, muitos setores da sociedade que clamavam pela separação. Isso ocorria, sobretudo, no agreste, centro-sul e baixo São Francisco sergipano.
Em contraponto, algumas lideranças comerciais eram favoráveis à manutenção da estrutura política ligada à Bahia. Estas se localizavam principalmente na região do Vaza Barris, dominada pela extração da cana-de-açúcar. “Eles não queriam que Sergipe se desligasse porque tinham negócios na Bahia. O estado vizinho, naquela época, não era dos baianos, mas dos portugueses. Era a capitania com maior presença de portugueses no Brasil, principalmente em Salvador, que era apelidada de segunda Lisboa. Os portugueses não queriam dar a emancipação política de Sergipe, importante fonte de impostos”, explica Osvaldo Neto.
Anos antes, em 1817, eclodiu na capitania vizinha a Revolução Pernambucana. O próprio rei, Dom João VI, arregimentou tropas para conter a revolta, contando com a participação de sergipanos no conflito. “Com isso, criou-se certo apreço por parte do rei para com os sergipanos. Isso deu respaldo para o processo de chamada da emancipação política da capitania de Sergipe Del Rei”, prossegue o historiador.
Em 1820, com o retorno da família real a Portugal no âmbito da Revolução do Porto, o rei assina a carta régia, no dia 8 de julho. “A carta separava Sergipe da Bahia, dando emancipação política e territorial à nova capitania. Mas os baianos, ou melhor, portugueses, não aceitaram. Tanto que o primeiro governador de Sergipe, Carlos César Burlamaqui, é deposto e preso por tropas baianas com menos de um mês de governo”, detalha Osvaldo.
A efetivação e a conclusão da emancipação acontecem somente em 1824, já em período posterior à independência do Brasil, que ocorreu em 1822. E essa emancipação é reconhecida no contexto da primeira constituição brasileira, também de 1824. “Sergipe era uma capitania nova que foi convertida em província muito rapidamente. Tudo ainda estava por se construir. Ao contrário de outras regiões ou territórios, a ex-capitania e agora província estava organizando praticamente do zero a sua questão administrativa”, relata Edna Matos.