Última atualização em 10/05/2023 por Ítalo Duarte
Por SE79*
A partir de uma reportagem do jornal O Globo de 1992 é possível perceber a naturalidade com que a sociedade da época lidava com a criação de animais silvestres no Brasil, hoje estritamente proibida a sua comercialização. Mas, para contemporâneos dos anos 1980 e 1990, criar um leãozinho como bicho de estimação era uma ideia válida. Esse era o caso do jovem Agathyrno Gomes Neto, que recebeu de seu pai um filhote de leão, na cidade do Rio de Janeiro.
“Conforme o tempo foi passando, vimos que era um animal dócil e decidimos ficar com ele”, contou o garoto de 18 anos à reportagem à época, acariciando o felino na sua residência em Jacarepaguá.
Na juventude, o leão King podia até sair para brincar numa área de mata perto de casa. Mas o tempo continuou passando e, aos 4 anos, pesando 170kg, o “bichano” foi confinado a um espaço de 3 metros quadrados do imóvel, já que ninguém tinha mais forças para segurá-lo na rua.
“Ele não pode mais pular por aí, porque derruba e assusta qualquer um. Mas é tudo brincadeira”, garantiu Agathyrno, segundo uma reportagem daquele ano.
Hoje, só é permitido criar “animais exóticos”, como os leões, com uma autorização específica (e bastante criteriosa) do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Mas entre os anos 1980 e 1990, vários moradores do Rio tinham exemplares de “reis da selva” em casa.
Mais leões de estimação
No dia 28 de abril de 1983, o jornal noticiou que uma família estava criando o filhote Jawa em sua residência numa vila na Tijuca. O leãozinho, que fazia a alegria da criançada, comia 1kg de carne por dia, além de legumes, ovos, queijo e 15 mamadeiras de leite. “Ele adora dormir na minha cama”, disse a dona, Ivone Dias.
Uma reportagem de 10 de setembro de 1989 reuniu diferentes casos de “leões de estimação”. A atriz Monique Alves, por exemplo, criava o filhote Zeus, de 3 meses, num “quarto e sala” em Laranjeiras. “Os vizinhos olham e falam: ‘Nossa, como ele está crescendo!’, e vão passando meio de lado, na ponta dos pés”, contou ela, rindo.
Já o militar reformado João Costa, morador da Tijuca, passou a dormir na cama com a leoa Luma, enquanto sua mulher, Cida, mudou-se para o quarto das crianças.
O comércio de leões era liberado, e um filhote custava menos que um cão da raça Yorkshire. Especialistas alertavam para os riscos, mas muita gente só entendia o perigo quando o bicho atingia a fase adulta e comia até 5kg de carne por dia. Então, tentavam doar o animal ao zoológico, que, por conta disso tudo, estava lotado de leões.
Com informações de O Globo*