Última atualização em 19/12/2023 por Ítalo Duarte
Celso Adão Portella morreu em decorrência de traumatismo craniano causado por uma queda que ocorreu há cerca de sete anos, conforme laudo pericial emitido pelo Instituto Médico Legal (IML) e apresentado durante entrevista coletiva realizada na manhã desta segunda-feira, 18, na sede da Secretaria da Segurança Pública de Sergipe (SSP). A identidade da vítima, que teve o corpo encontrado durante reintegração de posse em um apartamento da Zona Sul de Aracaju, já havia sido confirmada no dia 28 de setembro.
De acordo com a perita-odontolegista Suzana Maciel, a atuação pericial também identificou que o corpo foi mantido por sete anos após a morte de Celso. “Nós coletamos o material que até parecia que tinha algum tipo de conservação mas, com análises do IAPF, nós não encontramos, por exemplo, formol ou resíduos compatíveis com o uso de algum agente para conservar. O formol volatiza muito rápido e, durante esse tempo, ela pode ter usado inicialmente”, explicou.
“Mas isso não foi decisivo para a conservação do cadáver, o que a gente percebeu foi uma evolução normal dentro desse histórico. Foi um cadáver conservado dentro de uma mala e dentro de uma geladeira que, a princípio, funcionava. Então tinha uma temperatura que contribui para essa conservação, além da própria mala fechada. É compatível com os sete anos que estavam sendo investigados como tempo de morte de Celso Adão Portella”, acrescentou a perita-odontolegista Suzana Maciel.
Para o diretor do IML, Victor Barros, o trabalho pericial desenvolvido em torno do caso Celso Adão Portella foi um dos mais complexos em Sergipe, identificando a causa da morte e as consequências da queda decisiva para o óbito. “Foi um trabalho minucioso com diversas coletas de materiais que foram encaminhados ao Instituto de Análises e Pesquisas Forenses (IAPF) e tivemos material que foi encaminhado ao Rio de Janeiro. Então constatamos que a causa da morte ocorreu em decorrência de uma queda”, detalhou.
Com a queda, foram provocadas as lesões que resultaram na morte, assim como evidenciou Victor Barros. “A queda gerou uma fissura no osso frontal e consequente hematoma subdural intracraniano. Esse hematoma gera o ‘intervalo lúcido’ em que a pessoa não morre no momento da queda. Há um espaço de tempo variável entre 30 e 50 minutos em que a pessoa permanece viva e só então vem a falecer. Os diversos estudos também confluem para identificar que a morte ocorreu há sete anos”, complementou Victor Barros.
Victor Barros evidenciou ainda que a queda pode ter ocorrido de maneira acidental, tendo em vista a mobilidade da vítima que utilizava uma prótese no joelho. “Acreditamos que essa queda tenha sido de natureza acidental, visto que a vítima era uma pessoa de mobilidade reduzida e portadora de artrose. Então nós acreditamos que a queda se deu em decorrência de um acidente. Não acreditamos em uma queda provocada, embora a autoridade policial possa indicar uma outra vertente”, esclareceu o diretor do IML.
Localização do corpo
O corpo do advogado Celso Adão Portella foi encontrado durante uma ação de reintegração de posse em um apartamento localizado no bairro Suíssa, no dia 20 de setembro. O corpo da vítima estava em posição fetal e em estado de semi-esqueletização dentro de uma mala. Segundo os relatos colhidos no local do fato, a mala onde estava o corpo foi encontrada dentro de uma geladeira.
Positivação e confirmação da identidade
Após a localização do corpo – até então sem identificação – no dia 20 de setembro, o cadáver foi encaminhado ao IML, onde foram iniciados os processos de identificação e confirmação de identidade da vítima. Para a confirmação de que a vítima realmente se tratava de Celso Adão Portella, foram utilizadas metodologias científicas em torno do processo de antropologia forense, assim como de sobreposição de imagens.
De acordo com a perita-odontolegista Suzana Maciel, o conjunto de procedimentos científicos possibilitou a identificação do corpo. “Essa identificação foi feita também por um dos métodos científicos que era o número de série de prótese. Ele tinha feito um primeiro procedimento no joelho no Rio Grande do Sul, e passou por um novo procedimento em Sergipe, quando chegou no estado em 2005”, explicou.
Além do corpo, maus-tratos contra criança
Também durante o trabalho investigativo e pericial realizado no apartamento onde foi constatado o crime de ocultação de cadáver, também foi encontrado um cenário de maus-tratos contra uma criança que também residia no imóvel. No apartamento, havia diversos objetos jogados pelo imóvel, além de fraudas sujas e mau cheiro. A criança foi retirada do imóvel e recebeu assistência.
Indiciamento
Diante das evidências coletadas no decorrer da investigação conduzida pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, junto com os exames e laudos periciais emitidos pela Polícia Científica, no dia 3 de outubro, a SSP informou que o inquérito policial havia sido remetido à Justiça. O inquérito policial foi concluído com o indiciamento de uma mulher por ocultação de cadáver e maus-tratos contra pessoa menor de sete anos.